10 de Junho de 2021,
Nasci em Portugal, essa terra ibérica junto ao mar, com quase 900 anos de existência.
País de mar e sol, de língua portuguesa, a nossa pátria, como dizia o poeta Fernando Pessoa, de gente simpática e risonha. Gente barulhenta, com roupa no estendal à janela, camarada, de brandos costumes, por vezes.
Todos os que visitam as terras lusitanas, por elas ficam logo encantados. E os nossos que viagem para o estrangeiro, morrem de saudades.
Nasci num Portugal livre, aberto ao mundo, e devo essa liberdade a todos os capitães de abril e a todos os que lutaram contra a ditadura. Devo também essa abertura à União Europeia, cuja adesão ajudou a desenvolver-nos enquanto país, porque recursos de algum modo sempre nos faltaram. Má gestão dos mesmos, pouco investimento estratégico, para isso sempre contribuíram.
Mas, nós portugueses, que somos capazes de tantos feitos individuais, porque crescemos tão pouco, enquanto coletivo, em comparação a tantos países nossos vizinhos?
Parece-me que somos um povo pouco confiante, de baixa auto-estima, complexo de inferioridade.
Será o peso do legado da nossa história? Como passámos de um país tão pioneiro, que tinha metade do mundo para si (grande tratado de Tordesilhas), tão bravo, para um país por muitos considerado frouxo, estagnado?
Ainda carregamos o peso dos Descobrimentos? Povo que foi capaz de tanto...será que foi apenas um momento de sorte que tivemos? Porque razão não conseguimos batalhar-nos com os holandeses nas nossas caravelas? Porque eles avançaram, superando-nos, e nós para trás ficámos?
É verdade, tivemos os descobrimentos, e não fomos capazes de aguentar o ritmo da concorrência, é verdade, tivemos tanto ouro extraído das minas do Brasil, e depressa o esbanjámos. É verdade, a nossa instável república deu lugar à ascensão de um ditador forreta, que lhe deu jeito ter um povo pouco educado que não o questionasse. Nossa culpa, nossa perdição, mas que não deve ser uma sentença.
Nós portugueses, que damos prova da nossa qualidade pelo mundo fora, apreciados por todos, porque não acreditamos que juntos podemos fazer um Portugal melhor e mais forte? Sentimos um amor materno pelo nosso país, mas temos ainda pouca garra para construir um amor fatal por ele. No sentido de acreditarmos genuinamente num Portugal futuro, moderno e líder, um país em que o puro pássaro é mesmo possível. Em que as ideias de um Portugal próspero não são logo deitadas abaixo, chamadas de utópicas.
Não pensem que os jovens gostam de emigrar! Mas quem prefere, na sua perfeita consciência, trocar o sol e a simpatia portuguesa por um país frio, sem luz, austero? Temos um país bom para viver, mas este tem de ser bom para trabalhar também.
Vamos criar mais oportunidades, ambicionar mais.
Fora com as burocracias que nos amarram, que nos impedem de sonhar. Com os tantos velhos do Restelo que teimam em não ouvir os jovens. Não têm experiência, dizem eles, não sabem o que é a vida, sonham demasiado…
Mas nós, querido e velhinho Portugal, queremos fazer-te jovem outra vez, de espírito digo! Que o sonho dos jovens não morra, que tenha força para a concretização de um Portugal próspero.
Hoje, dia de Portugal, quero dizer sim a um Portugal outra vez sonhador. Vamos cumprir as palavras de Camões, porque hoje é também o seu dia, que tanta fé depositava em Portugal. Que sonhava por um país culto, confiante nos seus e do legado dos antepassados.
Quero fazer-te outra vez grande, ó Portugal!
Beatriz Ferreira Santos
Comments