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De Portugal a Roménia são 2700 quilómetros

De Portugal a Roménia são 2700 quilómetros. No outro canto da Europa, reside silenciosamente este país do qual a maior parte das pessoas não consegue dizer quase nada além dos vampiros. Foi por isso que escolhi esse destino para estudar durante um semestre: para explorar uma parte do enorme desconhecido, num local com uma realidade e história tão distinta da portuguesa. As primeiras impressões causadas pouco mudaram até aos últimos dias. Bucareste parece o que todos imaginam - antigos blocos “dos comunistas”, à volta de um colossal edifício que se torna o centro da capital. Mas rapidamente se esvaziou o roteiro. Nas ruas, torna-se cômico sequer dizer que há uma sede de cultura aberta ou de algo pós-material além da mera existência - era tudo muito unânime, muito monocórdico, muito monolítico. Sentia-se uma despersonalização, da qual não parecia existir preocupação em terminar. Aliados a tal, o temperamento dos romenos foi, para mim, semelhante ao clima e à arquitetura; muitas vezes frio, por onde raramente furava um raio de simpatia. A verdade é que ninguém nos garante que vamos ser sempre tratados como estamos habituados, e rapidamente me mentalizei que conhecer novos locais e viver noutros sítios tem isso mesmo: pessoas e padrões diferentes. E são tais cenários que nos fazem querer jornadear sempre que conseguimos. No fim, aprendi e percebi melhor o quão bem sabe casa, e a falta que sentia dela, ainda que de uma maneira completamente diferente. À medida que aguardava o retorno, mais aumentava a ânsia pela “bica”, pelo sol a fazer ricochete no Tejo, pela família, pelos amigos. Sentia falta de escorregar na calçada, de reclamar do café torrado e dos turistas a entupir a Ribeira das Naus. Sentia-me triste por não me sentir triste em ir embora; por temer que ter investido tempo numa experiência tão radical para mim, mas que não foi tão explosivamente positiva como muitos atribuem, talvez tenha sido um desperdício. Custa dizer que foi uma experiência negativa - porque provavelmente ainda nem sei tudo o que aprendi com ela; mas dizer que foi positiva é ter demasiada fé numa vivência que me soube tanto a cinzento. Ao fim e ao cabo, foi esta a minha maior e mais crucial aprendizagem - perceber que nem todas as experiências são negativas ou positivas - às vezes são só experiências, ponto final.


Henrique Simões

20/02/2022

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