Teriam os outros, ou pelo menos os que haviam sofrido com a separação, se habituado à sensação? À situação cruel daquilo que é a verdade estática e dura da rotina monótona? Será mais exato afirmar que, tanto moral como fisicamente, se sofre com a atualidade.
No começo do confinamento, lembro-me nitidamente das pessoas que perdi e das quais outrora senti saudades. Mas, se me recordo nitidamente dos seus rostos, dos seus toques, dos seus cheiros, dos seus sorrisos, dos dias que agora reconheço ter sido feliz, tenho dificuldade em imaginar o que esses outros poderão estar a fazer neste preciso momento e em lugares que agora me são longínquos. Em suma, neste momento, tenho as memórias, mas uma imaginação insuficiente.
Nesta segunda fase do confinamento, um ano depois, perdi também a memória. Não que me tivesse esquecido desses rostos, mas porque já não os quero sentir no meu interior.
Eles decidiram ir. E eu também.
Catarina Palindra
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